A publicação reúne pinturas feitas em acrílica sobre tela, acompanhadas por um texto-desabafo a partir da expressão “a faca e o queijo na mão”. A frase encapsula a ideia de ter todas as condições favoráveis para fazer algo acontecer. Narrativamente, a zine apresenta alternadamente pinturas apenas do queijo e apenas da faca, como se construísse, pouco a pouco, esse cenário de possibilidade. Ao final, surge enfim uma pintura com os dois itens nas mãos. As imagens falam do medo, da paralisia e da frustração diante do vento soprando a favor — e da sensação de não conseguir fazer nada com isso. E se, mesmo com tudo aparentemente dado, não conseguir fazer nada?

A zine foi distribuída junto com uma faquinha de cortar queijo, com a frase “Falta o Queijo” gravada na lâmina, embalada a vácuo.. 


 The publication brings together acrylic paintings on canvas, accompanied by a confessional text inspired by the expression “having the knife and the cheese in hand.” The phrase encapsulates the idea of having all the favorable conditions to make something happen.  Narratively, the zine alternates between paintings of only the cheese and only the knife, gradually building this scenario of possibility. In the end, there is finally a painting with both items held in hand. The images speak of fear, paralysis, and frustration in the face of the wind blowing in your favor — and the feeling of not being able to do anything with it. What if, even with everything seemingly in place, you still can’t act?

The zine was distributed along with a small cheese knife, vacuum-sealed, with the phrase “The Cheese Is Missing” engraved on the blade.


Transcrição:
Ter a faca e o queijo na mão significa estar em uma situação favorável, ter todo o poder para fazer algo acontecer. É tipo ter o vento soprando a seu favor. No entanto, raramente nos damos conta na mão de quem se encontram a faca e o queijo.

Infelizmente, tanto a faca quanto o queijo estão na minha mão. A faca não vai cortar o queijo sozinha. Para a ação ser realizada, o sujeito precisa empunhar a faca, segurar o queijo e arrancar-lhe um pedaço.

Olho para a minha mão e vejo a faca; olho para a minha outra mão e vejo o queijo. E agora? Olho para mim mesmo e sou tomado por uma inação nauseante. Percebo que eu ainda sou eu, cheio de medo e fragilidade. Agora sou eu com as mãos ocupadas e uma frustração grandiosa. 

Acho que me acostumei a lamentar por não ter as "condições favoráveis para fazer algo acontecer". Eu não estava preparado para o momento de agir. Eu imaginava que, como mágica, os meus desejos se realizariam assim que tocasse a faca e o queijo.

Agora só depende de mim. E, por mais libertador que isso seja, é igualmente amedrontador. Antes, eu não tinha a possibilidade de cortar o queijo. Agora que posso, fico paralisado. E é muito fácil me sentir culpado por isso.

O receio de tentar e fracassar é real, ainda que ter a faca e o queijo na mão seja maravilhoso. Sei que meu próximo passo é desvendar como silenciar o medo de não ser capaz. Sabe quando você vai cortar um pedaço de queijo, mas a inclinação da faca não está perpendicular e sai aquela fatia que vai afinando até que a faca bate estrondosa e inesperadamente na tábua, chamando a atenção de todos à mesa? Isso significa que a paralisia foi vencida e está tudo bem.


Categoria / Category    Ilustração, Diagramação, Autoral
Equipe / TeamKaio Fialho
Fotografia / PhotographyKaio Fialho
Ano / Year2024
Ver pinturas